Ele lutou até seu último suspiro. Aos 78 anos, em agosto de 2020, ele liderou mais de setenta bloqueios camponeses-indígenas que derrotaram o governo golpista de Jeannine Añez, obrigando-o a convocar eleições.
Ele era um rebelde intransigente. Contra o neoliberalismo e o colonialismo, contra todos no topo, fossem de direita ou de esquerda. Nada o impedia de continuar caminhando, mesmo em absoluta solidão, com todo o "equilíbrio de forças" contra ele.
Felipe Quispe nasceu na comunidade aimará de Chilijaya, no município de Achacachi, em 22 de agosto de 1942. A partir desse lugar, sua influência se espalhou por todo o Altiplano, tornando-se um símbolo incontornável da dignidade aimará e indígena.
Em 1978, fundou o Movimento Indígena Túpac Katari e anos depois impulsionou o movimento Ayllus Rojos que deu origem ao Exército Guerrilheiro Túpac Katari (EGTK), onde se encontrou com Raquel Gutiérrez e outras pessoas que prefiro não nomear para não manchar sua memória.
Ao chamá-lo de Mallku (condor em aimará), sua autoridade é reconhecida como referência ética e política, alguém que voa muito alto, que encarna o espírito e a força das montanhas.
Esteve preso no presídio de Chonchocoro desde 1992. Saiu em 1998 do cargo de secretário-geral da CSUTCB (Confederação Sindical Única de Trabalhadores Camponeses da Bolívia) promovendo bloqueios de estradas contra o governo de Hugo Bánzer, liderou a primeira guerra do gás (2003) e depois foi opositor do governo de Evo Morales, por questões ideológicas e éticas.
Hoje em dia, seus companheiros de luta lembram dele com emoção e carinho. Oscar Olivera, o protagonista da Guerra da Água de 2000, o descreve como "um homem leal e confiável. Um porta-voz e símbolo do povo aimará. Ele era muito duro com os opressores, mas enormemente generoso com as pessoas comuns. Ele nunca se fez de vítima."
Para Raúl Prada, "a luta de Felipe lembra o século XVIII, a época da rebelião de Tupac Katari. São poucas as pessoas cujo corpo inteiro está pronto para o combate."
Na homenagem que lhe foi prestada pela Rádio Deseo , a trabalhadora doméstica e sindicalista Yolanda Mamani demonstrou sua admiração pelo Mallku . "Ele falou de seu lugar como um camponês indígena, deixando o parlamento e retornando para sua aldeia. Ele nos disse que não devemos apenas nutrir nossos corpos, mas também nossas mentes com pensamentos, e que devemos ser rebeldes."
María Galindo, de Mujeres Creando, enfatizou que a morte de Felipe "deixa um vazio enorme" e preferiu lembrá-lo como alguém que "falou em primeira pessoa, não pelos outros ou em nome de um terceiro. Ele não queria apenas derrubar um governo, mas olhar além, mais profundamente. Ele transformou a raiva em uma força política."
Muitos se lembram dele por uma de suas frases durante uma entrevista à jornalista Amalia Pando, quando ela o questionou sobre os motivos da luta armada: "Não quero que minha filha seja sua serva..." ( https://bit.ly/3bZ4svJ ). Felipe tinha essa capacidade extraordinária de sintetizar a opressão colonial.
Em uma de suas entrevistas mais recentes, ele lembrou que sua tarefa é "obedecer às decisões da base", que o elegeu para liderar os bloqueios de agosto e há semanas o propôs como candidato a governador de La Paz (https://bit.ly/2XZVmXf).
Ele afirma que em agosto passado eles poderiam ter derrubado o governo "racista e fascista" de Añez, mas que o MAS os traiu ao retirar suas bases dos bloqueios.
Naquela entrevista, ele reconheceu que apoiou o MAS na remoção dos golpistas, mas disse imediatamente que "Evo Morales continua colocando a mão suja no governo Arce, quando deveria ter renunciado, como muitos líderes lhe disseram".
Hoje em dia, no Altiplano Aymara, ouvem-se vozes que dizem: “Não haveria um Evo sem um Mallku”. Porque foi a luta das comunidades que abriu uma brecha na dominação por onde escorregaram o MAS e Evo Morales. Mas quando chegou a hora de lutar, enquanto os que estavam no topo fugiam do país, os Felipes permaneceram para continuar a luta.
Ele era um líder limpo. Ele nunca desistiu, se vendeu ou cedeu. É por isso que esta ficará registrada como a maior história de resistência e dignidade dos que estão no fundo. A história coloca cada um em seu lugar.
Ele foi um educador do seu povo. No prólogo de seu livro de 1990, “Tupac Katari Lives and Returns… Damn”, ele escreveu: “O fogo da verdade dos oprimidos e explorados fará esta nova Sodoma e Gomorra, a sociedade capitalista, chorar e uivar.”
Já vemos substitutos da geração de Felipe entre os jovens e mulheres que saíram às ruas durante os bloqueios de 2020, entre aqueles que participaram do Parlamento Feminino convocado por Mujeres Creando durante o golpe de 2019 e entre os milhares de herdeiros dos jovens que lideraram o levante de 2003 em El Alto.
Quero lembrar dele com uma frase típica de Felipe: "Eles podem privatizar as montanhas, mas nós, condores, continuaremos voando".
Muammar Abu Minyar al-Kadafi caiu combatendo na defesa da independência nacional de sua nação. Resistiu, cidade por cidade, quarteirão por quarteirão, casa por casa, até ficar encurralado com seus derradeiros companheiros e companheiras, feras indomáveis, nos poucos metros de terra líbia livre. Como dissera, enfrentou até a morte, irredutível, a coligação das mais poderosas nações imperialistas ocidentais. Ferido, foi preso, achincalhado, arrastado, torturado e, já moribundo, assassinado.
Em torno dele desencadernava a canalha armada e excitada que se banqueteava, havia semanas, rapinando, executando, violando a população da cidade heróica de Sirte, arrasada por sua resistência à recolonização do país. Sirte, no litoral mediterrânico, com mais de 130 mil habitantes, foi sede de universidade pública, destruída, e do terminal do impressionante rio artificial que retira as águas fósseis do deserto do Saara para aplacar a sede das populações e agricultura líbia.
Nas últimas cidades rebeldes, encanzinados franco-atiradores, homens e mulheres, jovens e adultos, foram calados com o arrasamento pela artilharia pesada dos prédios em que se encontravam. Estradas, portos, centrais elétricas e telefônicas, quartéis, escolas, creches, hospitais, aeroportos, estações televisivas e radiofônicas, a infra-estrutura do país construída nas últimas quatro décadas, foi arrasada por seis meses de ataques aéreos, navais e missilísticos – mais de cinqüenta mil bombas! –, responsáveis por enorme parte dos talvez cinqüenta mil mortos, em população de pouco mais de seis milhões de habitantes.
A lúgubre paz dos cemitérios reina finalmente sobre a Líbia submetida. Quarenta e dois anos após a conquista de sua independência nacional, a Líbia retorna ao controle neocolonial do imperialismo inglês e francês, que se dividiram a hegemonia sobre o país após a 2ª Guerra, que pôs fim à dura dominação colonial da Itália fascista. Tudo, é claro, sob a vigilância impassível da hiena estadunidense.
Em 1969, o então jovem coronel Muammar, com 27 anos, chegava do deserto para comandar o golpe de jovens militares pela independência e unidade da Líbia, animado pelas esperançosas idéias do pan-arabismo de corte nacionalista e socialista. Do movimento surgiu um Estado laico, progressista e anti-imperialista, que nacionalizou os bancos, as grandes empresas e os recursos petrolíferos do país.
Quarenta e três anos mais tarde, Kadafi cai simbolizando os mesmos ideais. Com sua morte, expia dramática e tardiamente sua irresponsável tentativa de acomodação às forças do imperialismo, empreendida após a vitória mundial da contra-revolução liberal.
Quem abraça o demônio, jamais dirige a dança! Foi o movimento de privatizações, de “austeridade”, de abertura ao capital mundial, de apoio às políticas imperialistas na África etc., sob os golpes da crise mundial, o grande responsável pela perda de consenso social de ordem que, no contexto de suas enormes contradições, realizara a mais ampla e democrática distribuição popular da renda petroleira das nações arábico-orientais.
Por décadas, ao contrário do que ocorria com tunisianos, argelinos, egípcios etc., não se viu na Europa um líbio à procura de um trabalho que encontrava em seu país. Ao contrário, o país terminou como destino de forte imigração de trabalhadores da África negra subsaariana, atualmente maltratados, torturados, executados por membros das “tropas revolucionárias” arregimentadas pelo imperialismo, sob a desculpa de serem os “mercenários” de Kadafi.
A intervenção na Líbia não procurou apenas recuperar o controle direto das importantes reservas petrolíferas pelo imperialismo inglês, francês e estadunidense. Objetivou também assentar golpe mortal na revolução democrática e popular do norte da África, mostrando a capacidade de arrasar implacavelmente qualquer movimento de autonomia real. Com uma Líbia recolonizada, espera-se construir plataforma de intervenção regional, que substitua o hoje convulsionado Egito.
A operação líbia significou também conquistas marginais, além do controle do petróleo, da disposição de sufocação da revolução democrático-popular árabe, da construção de plataforma imperialista na região. Enormes segmentos da esquerda mundial, sem exceção de grupos auto-proclamados radicais, embarcaram-se no apoio de fato à intervenção imperialista, defendendo graus diversos da sui-generis proposta de estar com o “movimento revolucionário” líbio e contra o imperialismo que o criara e sustentara. Aplaudiam as bombas que choviam sobre o país, propondo que não sustentavam a intervenção da OTAN!
Para não se distanciarem da opinião pública sobre o governo líbio e os sucessos atuais, construída pela tradicional subordinação e hipocrisia da grande mídia mundial, seguiram na saudação das forças “revolucionárias líbias”, como se não fossem meras criaturas da intervenção imperialista, como demonstraram – e seguirão demonstrando – inapelavelmente os fatos! Os revolucionários líbios não avançaram um metro nos combates sem o aterrador apoio aéreo e a seguir terrestre da OTAN. Em não poucos casos, também como fizera Kadafi nos últimos tempos, procuram consciente ou inconscientemente acomodar-se à besta imperialista.
* Mário Maestri sul-rio-grandense é professor do curso e do Programa de Pós-Graduação em História da UFF.
10 FATOS IMPORTANTES DA HISTÓRIA DE MUAMMAR AL-KADAFI
Nascido no ano de 1942, Muammar al-Gaddafi foi um dos mais importantes e influentes líderes da Líbia. Seu caráter nacionalista, pelo qual era conhecido, ganhou destaque logo em sua juventude por se organizar em um movimento revolucionário influenciado pelas ideias de Gamel Abdel Nasser e de posição anti-imperialista.
A tomada do poder veio no ano de 1969, onde a crise do governo propiciou a sua derrubada por tropas nacionalistas, que obrigaram o governo a renunciar.
O contexto de tal crise é comum a vários países da região. Sob forte controle dos interesses imperialistas, as grandes riquezas do país eram praticamente todas exportadas, como no caso do petróleo, porém sem trazer reais ganhos a população. Além disso, o estado ditatorial da época atacava profundamente a população, enquanto sedia as potências estrangeiras. A soma de todos esses fatores levou a uma grande crise entre o regime e o povo líbio.
Com um desenvolvimento desses, era inevitável que as tropas revolucionárias, setor mais organizado politicamente da sociedade líbia, viessem a tomar a frente da situação, assumindo assim o espaço político deixado pelo então governo de Idris I.
Gaddafi (centro) em 1969, junto ao presidente egípcio Gamal Abdel Nasser (esquerda) e o presidente sírio Nureddin al-Atassi (direita)
Após a tomada do poder, Gaddafi se torna o líder da revolução líbia, sendo tanto coronel quanto líder do governo, e assim expulsa as bases militares norte-americanas e inglesas, retirando com uma série de medidas as influências imperialistas em seu país e suas empresas que exploravam o povo.
Gaddafi também ficou conhecido por uma outra série de medidas populares, como a forte inclusão das mulheres na sociedade, grande crescimento econômico, grandes programas sociais e diversos direitos aos negros. Podemos também relembrar que a Líbia conseguiu o maior IDH do continente africano, além de ter a menor dívida pública do mundo.
Porém, a atuação do governo líbio após a tomada do poder também se deu em caráter internacional, com Gaddafi patrocinando importantes grupos como os Panteras Negras nos EUA, e grupos anti-imperialistas no Oriente Médio. Propondo a unidade dos estados da região, e declarando também o governo popular de Jamahiriya, sustentado pelo partido União Socialista Árabe.
Seu governo veio a durar por muitos anos, contudo, com a crise aumentando cada vez mais com os países imperialistas, a Líbia, junto a outros tantos países da região, passaram a sofrer ataques que saiam da esfera meramente econômica. Em 2011, Gaddafi foi assassinado, a Líbia destruída por uma invasão financiada sobretudo pelos Estados Unidos e a França, e o governo do país divido em dois.
Devido a isto, a Líbia, país que passou por grande desenvolvimento, conciliando os interesses da burguesia líbia com sua população, enfrentando assim o imperialismo com um governo nacionalista, agora é nada mais é que um país completamente destruído, extremamente pobre, onde o imperialismo saqueou totalmente.
O país que um dia teve o melhor IDH da Africa, hoje sobrevive o tráfico de escravos, mostrando de forma evidente do que é capaz o imperialismo que invade esses países sob o pretexto de “levar a democracia”.
CARTA DO SECRETARIADO DA I.C. PARA A AMÉRICA DO SUL
E CENTRAL AO C.C. DO P.C. DO BRASIL
[Manuscrito:] Kommentarien zur Resol. der Pol. Komm. am 27. IV. 1933 г.
I.
1 ‒ A situação semicolonial do Brasil, seu papel de apêndice agroprimário dos países capitalistas desenvolvidos e o predomínio dos resquícios feudais e escravistas em sua organização socioeconômica determinaram a profundidade e a amplitude consideráveis da crise econômica que assola o país. Justamente esses fatores fizeram também com que o nível de vida das massas trabalhadoras caísse assustadoramente, chegando abaixo do necessário à sobrevivência, no que concerne a amplas camadas da classe operária e do campesinato. Ao mesmo tempo, é exatamente a situação semicolonial do Brasil e a competição anglo-americana pelo “direito” de monopolizar sua exploração que conduzem, no seio das classes dominantes, às mais agudas formas de lutas grupais, incluindo a guerra e a sublevação. A supressão da revolta de 1932 em São Paulo de forma alguma indica que arrefeceram as contradições entre o bloco burguês-latifundiário paulista e a camarilha governante de Vargas, ao mesmo tempo em que tem se agravado as contradições dentro da própria camarilha de Vargas, portadoras da perspectiva de novos conflitos e golpes.
Para incrementar o movimento revolucionário e para que ele atraia com ímpeto as mais amplas massas e as faça destruir o domínio burguês-latifundiário nas diversas regiões do Brasil, têm surgido condições objetivas cada vez mais favoráveis.
2 ‒ Além disso, justamente o atraso semicolonial do Brasil – seu débil desenvolvimento industrial, o baixo nível material e cultural da classe operária e um movimento operário sem tradições marxistas e com fortíssimas influências pequeno-burguesas, particularmente anarcossindicalistas ‒ determinou a extraordinária fraqueza do PC e seu atraso em relação às possibilidades revolucionárias objetivas surgidas no cenário de crise e de fim da estabilização capitalista. Apesar de alguns êxitos do Partido Comunista do Brasil em diversos campos de atuação, ele não soube superar no essencial as tradições pequeno-burguesas predominantes no movimento operário brasileiro. De fato, as diretivas da carta de 1930 ao PCB, bem como toda uma série de instruções e cartas do Bureau Sul-Americano do CEIC, não saíram do papel, não foram levadas às bases nem basearam qualquer reestruturação do trabalho partidário. Na verdade, o Partido ainda não superou os longos anos que caracterizaram sua formação inicial: por sua informidade ideológica e porosidade organizacional, por sua infestação por elementos de classes estranhas, pela fraqueza de seus quadros dirigentes, pela extrema insuficiência de suas ligações com as amplas camadas de trabalhadores urbanos e rurais, pela incompletude ou mesmo ausência de toda uma gama de setores importantíssimos de atuação partidária ‒ por tudo isso o PCB, no atual momento, não está em condições de aproveitar plenamente as possibilidades revolucionárias objetivas excepcionalmente favoráveis, nem de comandar as massas trabalhadoras, principalmente o proletariado, sequer no curso de suas lutas mais iminentes ou já desencadeadas contra a ofensiva do capital, a reação política e o perigo da guerra, sem já falar na luta pelos objetivos fundamentais da revolução antifeudal e anti-imperialista. Na maioria dos casos o Partido tem permanecido à margem da luta econômica e política de massas, não a desencadeando nem a liderando, e ainda não tem atuado na arena da luta de classes do Brasil como um protagonista ativo que organize, comande e guie as massas. Por isso, a luta das massas trabalhadoras cada vez mais radicais tem ocorrido principalmente na forma de ações espontâneas e desorganizadas que, no mais das vezes, terminam derrotadas. Uma parte significativa da classe operária, bem como do campesinato, tem caído sob a influência de um ou outro de nossos adversários ‒ socialistas, anarcossindicalistas, ex-prestistas e outros ‒ que escondem sua essência contrarrevolucionária com manobras “de esquerda” mais ou menos avançadas. Somente o fortalecimento do PCB e sua transformação num verdadeiro Partido bolchevique, intimamente ligado às massas e que organize e lidere suas lutas econômicas e políticas, podem garantir êxito no aproveitamento das possibilidades objetivas favoráveis à vitória da revolução.
3 ‒ A situação política geral do PCB se caracteriza atualmente pelos seguintes traços: o Partido ainda está longe de ser um verdadeiro Partido bolchevique, de assimilar a teoria marxista-leninista e nela basear sua prática política, de alcançar a independência ideológica em relação às classes dominantes e de desligar-se com suficiente clareza das teorias das classes estranhas e inimigas. Algumas camadas do Partido ainda não se livraram do peso das ideias anarcossindicalistas, prestistas, trotskistas e outras, que se apresentam ora num formato direitista abertamente oportunista, ora encobertas por um palavreado “de esquerda”. Por conta da crise do movimento revolucionário pequeno-burguês no Brasil, o Partido Comunista constituiu, até recentemente, um centro de atração de diversos elementos pequeno-burgueses que frequentemente conservavam ligações diretas com as camarilhas burguesas-latifundiárias dominantes e traziam para as fileiras comunistas influências de classes estranhas, as quais engendraram uma série de distorções na linha partidária prática.
Os desvios de direita mais perigosos se manifestam, sobretudo: na “teoria” segundo a qual o proletariado deve renunciar à luta pela hegemonia da revolução democrático-burguesa e ceder o papel dirigente da revolução à burguesia e à pequena burguesia (“teoria” de Astrojildo, Brandão e outros); nos esforços para impedir que o Partido atue como força independente na atual luta política (a palavra de ordem “primeiro se organizar, e depois lutar” de Cazini, e sua proposta e de outros de que A Classe Operária se abstivesse de publicar artigos políticos, limitando-se apenas à correspondência operária etc.); nos esforços para limitar as tarefas do movimento sindical revolucionário à mera luta econômica; no tratamento da FJC como uma “organização de frente única que deve congregar os jovens trabalhadores de todas as orientações políticas”; nas atitudes conciliatórias e capitulacionistas perante estes ou aqueles agrupamentos burgueses-latifundiários (a “teoria do mal menor” com relação a Miguel Costa em São Paulo, com relação aos tenentistas e mesmo a Vargas no Rio, no período da “guerra civil”) etc. Todas essas “teorias”, que têm seu fundamento lógico na ideia completamente oportunista de Astrojildo e outros sobre a “revolução proletária que amadurece à sombra da revolução pequeno-burguesa”, estão muito estreitamente ligadas à prática oportunista dos “compromissos” e “conciliações” com diversas correntes “de esquerda” do campo burguês-latifundiário contrarrevolucionário – trotskistas, ex-prestistas que agora se tornaram um sustentáculo do domínio burguês-latifundiário etc.
Os desvios de esquerda se manifestam: na superestimação do grau de amadurecimento da situação revolucionária (a palavra de ordem da criação de sovietes camponeses em São Paulo); na recusa em aplicar a tática da frente única pela base e em lutar por reivindicações parciais; na escamoteação da importância de se unir ao campesinato; na subestimação da questão nacional; nas tendências sectárias e golpistas; na passividade e no “neutralismo” semianarquistas nos momentos de aguçamento da luta entre as camarilhas burguesas-latifundiárias pelo poder; na subestimação da importância dos recursos legais (a palavra de ordem do “boicote à Constituinte”) etc. Todas essas atitudes esquerdistas, reflexos da influência pequeno-burguesa sobre o Partido Comunista, na verdade escondem a passividade oportunista no tocante ao trabalho persistente e sistemático de mobilização e organização das amplas massas trabalhadoras urbanas e rurais sob a bandeira do PCB.
II.
1 ‒ A DEBILIDADE DOS QUADROS DIRIGENTES DO PARTIDO.
Esses quadros dirigentes se compõem, em grande parte, de elementos não proletários ou há muito tempo inativos, que ainda não assimilaram os fundamentos da teoria marxista-leninista ou se encontram até mesmo, em maior ou menor grau, sob a influência de ideologias estranhas, muitos deles sendo contaminados pelo espírito do sectarismo e da politicagem e uns tantos até mesmo ligados direta ou indiretamente a diversos agrupamentos oposicionistas e renegados ou a aventureiros e demagogos “de esquerda” do campo das classes dominantes, tais como Miguel Costa. Apenas há pouquíssimo tempo tem começado a cristalizar-se um grupo dirigente que, embora ainda não tenha se livrado da hesitação e da vacilação numa série de questões políticas, mesmo assim tem se esforçado sinceramente em executar uma linha política bolchevique e, portanto, pode futuramente, com a condição de uma autocrítica decidida e com base numa reestruturação radical de todo o trabalho partidário, tornar-se o núcleo sólido e sadio de um PC do Brasil bolchevique.
As tarefas no sentido de fortalecer e sanear os quadros dirigentes só podem ser cumpridas com êxito na base da participação do Partido como força dirigente nas lutas econômicas e políticas de massas, forjando e verificando os quadros não somente no curso das discussões intrapartidárias, mas também, e acima de tudo, das lutas de massas. As tarefas mais urgentes do Partido nesse campo são:
a) orientar-se decididamente rumo à proletarização dos quadros dirigentes, com a condição de manter a melhor parcela da velha liderança e sem empregar métodos mecânicos ou fictícios no processo, entre eles o de aproveitar, nos comitês, “operários” já há muito inativos; além disso, deve-se prestar especial atenção ao aproveitamento e à promoção de camaradas que tenham se mostrado bons dirigentes de massas no curso das lutas econômicas e políticas do proletariado;
b) organizar um estudo marxista-leninista sistemático para os quadros ativos (realizar cursos de curta duração para os ativos, publicar literatura marxista-leninista em língua portuguesa, enviar uma série de ativistas para as escolas de formação dos Partidos Comunistas irmãos – especialmente o argentino[1] ‒ etc.);
c) afastar decididamente dos postos dirigentes todos os membros que estejam realizando um trabalho sectário e excluir do Partido todos os indivíduos ligados a correntes políticas estranhas e inimigas; além disso, é indispensável conseguir esclarecer todos os membros do Partido, de modo sistemático e profundo, sobre a essência antipartidária e contrarrevolucionária desses elementos, evitando ao máximo afastá-los mecanicamente sem desmascará-los com justeza aos olhos dos membros do Partido, como ocorreu, por exemplo, no caso de Astrojildo.
2 ‒ A POROSIDADE E A INFORMIDADE DO CONJUNTO DA ORGANIZAÇÃO PARTIDÁRIA.
Em vários casos, as organizações partidárias só existem no papel, quase não revelando nenhuma manifestação prática. As células estão isoladas das massas e não têm existência própria, e as frações sindicais, na maioria dos casos, não saíram do papel. A imprensa partidária publica com extrema irregularidade, e por enquanto não pode sequer aspirar minimamente ao papel de “organizador coletivo” que dá coesão e forma ao Partido, papel que a imprensa bolchevique da Rússia já desempenhava nos primeiros tempos do desenvolvimento do bolchevismo. O PC do Brasil, na verdade, ainda não existe como um Partido realmente nacional, com dirigentes vindos de todas as partes, e a ligação entre seus diversos setores se destaca por sua extrema fragilidade (débil ligação entre o CC e os CRs, e entre os CRs e o aparelho de bases; isolamento entre os comitês do Partido e as massas partidárias em geral; discrepância entre as atuações desses comitês e das frações partidárias nos sindicatos e em outras organizações de massas etc.). Existe no Partido uma série de agrupamentos isolados mais ou menos fechados que se opõem ao conjunto da militância nesta ou naquela questão ou até a toda a linha político-partidária, que por vezes intrigam contra o Partido e se ligam a elementos contrarrevolucionários abertamente inimigos, tais como trotskistas, diversos aventureiros e demagogos “de esquerda” das classes dominantes etc. A disciplina partidária é extremamente débil, ocorrendo inúmeros casos de insubmissão direta às decisões dos órgãos dirigentes e casos ainda mais numerosos de silêncio e desprezo a suas instruções.
As tarefas do Partido no sentido do fortalecimento do conjunto do aparelho partidário só podem ser resolvidas no imediato com a condição de concentrá-las, antes de tudo, em algumas regiões essenciais ‒ tais como os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco ‒, onde devem ser reunidos os melhores organizadores, agitadores, propagandistas e literatos do Partido, mesmo com prejuízo às regiões restantes. As organizações dessas regiões também devem ser fortalecidas com membros do Comitê Central a serem distribuídos entre as regiões onde o Partido concentrará sua atenção principal, mantendo-se no centro apenas um pequeno grupo de camaradas absolutamente indispensáveis.
É evidente que o fortalecimento e o saneamento organizativos do Partido só podem ser alcançados com a condição dele participar o mais ativamente possível como força dirigente nas lutas econômicas e políticas de massas. Tem um caráter completamente oportunista a “teoria” que circula em algumas camadas do Partido e era defendida particularmente por Cazini, segundo a qual o Partido deve “primeiro se organizar, e depois lutar”. Somente no próprio curso da luta de massas e com base no estudo e na assimilação de sua experiência por todos os membros do Partido é que se torna possível um real fortalecimento das organizações partidárias.
Por outro lado, o fortalecimento do Partido pressupõe o mais amplo desencadeamento da autocrítica de baixo para cima, ligada a um minucioso debate, por toda a massa de membros do Partido, de todas as tarefas postas diante deles, ao balanço detalhado e à correção dos erros cometidos, à constante autoverificação no curso das lutas de massas e ao fortalecimento da disciplina partidária.
3. O PARTIDO AINDA NÃO APRENDEU A MANEIRA BOLCHEVIQUE DE COMBINAR OS MÉTODOS LEGAIS E CLANDESTINOS DE ATUAÇÃO.
Por um lado, em algumas camadas do Partido, existem tendências “legalistas”, oportunistas de direita, que representam, na atual etapa, o perigo principal e que se expressam particularmente nos intentos de “aproximar-se” de diversos aventureiros e demagogos “de esquerda”, tais como Miguel Costa, e, dessa forma, garantir para si uma saída para a “ampla” arena das intrigas políticas mais ou menos “legalizadas”. As tendências “legalistas” também se expressam na subestimação do significado decisivo do aparelho partidário ilegal na atual etapa, na recusa em tomar medidas sérias e sistemáticas de luta contra os provocadores etc. Por outro lado, o Partido não tem lutado amplamente para aproveitar as possibilidades legais com objetivos revolucionários, criando para si, dessa forma, dificuldades para tornar-se um legítimo Partido de massas (subestimação da atuação nos sindicatos legais, indicação da palavra de ordem de boicote às eleições para a Assembleia Constituinte por alguns camaradas, recusa em utilizar editoras burguesas para publicar obras de Marx, Engels, Lênin e Stálin sob o pretexto de que isso seria “moralmente inadmissível” etc.).
Aproveitando ao máximo todas as possibilidades legais disponíveis, o Partido deve, ao mesmo tempo, prestar a mais séria atenção às tarefas de fortalecimento e saneamento do aparelho clandestino, afastando decididamente todos os elementos desconfiáveis e garantindo, em primeiro lugar, a ligação das regiões essenciais entre si e com os órgãos dirigentes. É de particular importância garantir o fornecimento mais sistemático possível de livros às organizações partidárias brasileiras, tanto os editados legal ou clandestinamente dentro do país quanto os editados no exterior.
4 ‒ A LIGAÇÃO INSUFICIENTE ENTRE O PARTIDO E A CLASSE OPERÁRIA.
Enquanto não houver uma ligação firme entre o Partido Comunista e a classe operária, não se pode nem falar em bolchevização do Partido ou em sua transformação numa organização realmente capaz de liderar com êxito a luta revolucionária de massas. Entretanto, o PCB continua sendo de fato uma organização fechada que não soube estabelecer uma forte ligação com as massas proletárias.
Mesmo quando se criavam condições objetivas excepcionalmente favoráveis para o reforço da ligação entre o Partido e a massa trabalhadora ‒ tal como durante a greve dos ferroviários, quando as próprias massas, por vezes, “procuravam” o Partido Comunista e buscavam permanecer sob sua liderança ‒, elas foram extremamente mal aproveitadas. O Partido ainda está isolado das amplas massas operárias, ora ficando para trás na evolução do movimento de massas, o que constitui o perigo principal (assim, por exemplo, uma série de grandes greves se realizou sem qualquer participação do PC do Brasil), ora lançando, por outro lado, palavras de ordem e diretivas esquerdistas (tendências golpistas, subestimação da tática da frente única pela base etc.).
Embora o PCB já tenha começado a desenvolver parcialmente a estruturação partidária com base nas células de empresa, ele ainda não tem células na maioria das grandes empresas. Aquelas existentes estão isoladas das massas, não sabem do que elas vivem ou quais são seus sentimentos e exigências, nem têm encabeçado ou liderado as massas em sua luta econômica e política cotidiana.
O movimento sindical revolucionário, principal correia de transmissão entre o Partido e as massas operárias, encontra-se num estado de total desorganização e sua atuação não tem se baseado nas instruções dadas pelo CEIC na carta sobre o trabalho sindical nos países da América do Sul e do Caribe. O movimento sindical revolucionário não só não se fortaleceu nos últimos tempos, como, pelo contrário, perdeu as poucas forças que tinha. A direção da CGTB praticamente não existe e as organizações sindicais revolucionárias, com algumas exceções, só existem no papel, não estando realmente ligadas às massas nem desencadeando ou liderando sua luta. No fundo, não se realiza um trabalho sequer nos sindicatos reacionários anarcossindicalistas e reformistas nem nos sindicatos oficiais recém-fortificados.
O Partido não somente não aprendeu a realizar na prática a frente única pela base, mas também sequer ainda se deu conta, por parte de inúmeras camadas suas, da enorme e atual importância dessa forma de luta pelo apoio da maioria da classe operária. O Partido não tem conduzido quase nenhuma luta real por reivindicações parciais nem organizado ações de massas em torno delas, embora lhes dê grande espaço em seus “manifestos”. Apesar da crescente demagogia de nossos adversários e embora eles empreguem manobras “de esquerda” cada vez mais amplas, o Partido não soube até agora concentrar minimamente suas forças no desmascaramento de seus adversários no curso da atual luta das massas operárias por reivindicações parciais.
A tarefa imediata do Partido no que toca fortalecer sua ligação com as amplas massas proletárias é concentrar o trabalho num pequeno número de grandes empresas ‒ especialmente criando e fortalecendo células partidárias ‒ e numa série de grandes sindicatos. O Partido deve formular reivindicações básicas, orientadas à defesa dos interesses imediatos da classe operária diante da crescente ofensiva do capital, do reforço da reação política e do agravamento do perigo da guerra, e deve organizar ações de massas em defesa delas. As reivindicações devem se adaptar às condições de cada região e de cada empresa, ter um caráter plenamente concreto e ser inteligíveis aos operários mais atrasados. O Partido deve criar nas grandes empresas “comitês de luta contra a ofensiva do capital e a reação política” como órgãos da frente única pela base, chamando a participarem trabalhadores de todas as orientações políticas e buscando, ao mesmo tempo, garantir a liderança comunista nesses comitês.
As células partidárias nas empresas e as frações comunistas nos sindicatos devem propor aos “comitês de luta” e às lideranças sindicais que se organizem ações de massas em defesa das reivindicações parciais ‒ comícios, manifestações, greves etc. ‒, desmascarando implacavelmente no próprio curso da luta de massas todas as tentativas de nossos inimigos de arrasar, sabotar e atraiçoar essa luta.
O Partido deve prestar a mais séria atenção à seleção e formação dos quadros dirigentes do movimento sindical revolucionário, organizando uma rede de cursos sindicais, criando uma publicação especial para os sindicatos etc.
5 ‒ A EXTREMA DEBILIDADE DO TRABALHO PARTIDÁRIO NO CAMPO.
Embora a vitória da revolução democrático-burguesa só seja possível garantindo-se o papel dirigente do proletariado comandado pelos comunistas, o PCB, com relação ao campesinato trabalhador, mesmo tendo obtido recentemente alguns êxitos, principalmente em São Paulo, no trabalho entre o proletariado agrícola, foram êxitos, em primeiro lugar, não consolidados por uma campanha de recrutamento bem sucedida e, em segundo lugar, não aproveitados para adentrar a influência partidária nas amplas camadas do campesinato pobre e médio. O Partido continua a subestimar a importância de uma liderança proletária no movimento camponês e não tem conduzido nenhuma luta real pelas reivindicações parciais do campesinato trabalhador, sequer elaborando uma lista delas. Quase não reagindo diante da luta das massas camponesas que tem se desenvolvido espontaneamente e adquirido, em vários casos, um caráter bastante impetuoso, o Partido, por outro lado, às vezes tem proposto diretivas que superestimam o amadurecimento da situação revolucionária e que, por isso, ficam em suspenso (tais como a da criação de sovietes camponeses, proposta em São Paulo no tempo da “guerra civil”).
As tarefas imediatas do Partido nesse âmbito são: a) criar células partidárias nas grandes regiões agrícolas, chamando os melhores e mais conscientes assalariados agrícolas e camponeses pobres e médios que no passado tenham participado ativamente do movimento revolucionário espontâneo dos camponeses; b) mobilizar parte dos quadros ativos urbanos num trabalho permanente no campo; c) realizar um trabalho sistemático nos sindicatos agrícolas já existentes e criar novos sindicatos; d) criar “comitês de luta camponeses” em prol dos interesses imediatos do campesinato pobre e médio e do proletariado agrícola; e) elaborar reivindicações parciais concretas e realizar em sua defesa uma série de ações de massas que passo a passo levem o campesinato a lutar pela apropriação e divisão imediatas dos latifúndios; f) estabelecer ligações com os melhores elementos do movimento dos “cangaceiros” que sejam estreitamente ligados às massas e conquistar a liderança desse movimento.
6 ‒ A EXTREMA DEBILIDADE DO TRABALHO PARTIDÁRIO ENTRE AS MASSAS TRABALHADORAS DOS POVOS OPRIMIDOS.
O Pleno de agosto de 1932 do CC submeteu a uma séria discussão a questão nacional, o que sem dúvida indica por si só um notável passo adiante. Mas nesse mesmo Pleno se revelou com toda clareza o quão débil ainda é a lida com os princípios básicos da política leninista das nacionalidades, mesmo entre os quadros dirigentes do Partido; assim, por exemplo, certos participantes desse Pleno se manifestaram contra a diretiva do direito dos povos à secessão, apontando que essa aspiração já fora alcançada nos EUA, onde os negros seriam “separados” dos brancos por lhes serem destinados, por exemplo, lugares especiais nos bondes, trens etc. Goza de ampla difusão no Partido toda sorte de teorias “raciais” burguesas, tal como a tendência a reunir os diversos povos indígenas numa única “raça”, escondendo a recusa em lutar pelo direito dos povos indígenas à secessão. O conjunto do Partido ainda não desenvolveu nenhum trabalho prático entre as massas trabalhadoras dos povos oprimidos em defesa de sua libertação nacional, limitando-se, no melhor dos casos, a frases e raciocínios gerais.
As tarefas do Partido nesse sentido são: a) lutar decididamente contra a subestimação da questão nacional, defender a palavra de ordem leninista do “direito dos povos à secessão” e combater toda e qualquer deturpação desse princípio; b) chamar às fileiras do Partido os melhores representantes do movimento revolucionário espontâneo das massas trabalhadoras negras e indígenas; c) articular a luta por reivindicações parciais à luta pela libertação nacional dos trabalhadores negros e índios (exigir iguais condições de trabalho aos operários de todas as nacionalidades, a abolição do trabalho forçado dos índios etc.).
7 ‒ O PARTIDO TEM PRESTADO UMA ATENÇÃO EXTREMAMENTE DÉBIL AO TRABALHO ENTRE AS MULHERES E A JUVENTUDE TRABALHADORA.
O trabalho sistemático entre as mulheres trabalhadoras é, no fundo, totalmente inexistente. No que concerne à FJC, o Partido não soube lhe manter as rédeas de modo sistemático e bem orientado politicamente, e por isso, em algumas camadas dessa juventude, ainda circulam teorias “vanguardistas”, bem como diretrizes pela sua conversão numa “organização de massas que abarque os jovens trabalhadores de todas as orientações políticas”, diretrizes que a transformariam, se postas em prática, numa arma política antipartidária e contrarrevolucionária.
8 ‒ O PARTIDO TEM PRATICAMENTE MENOSPREZADO A IMPORTÂNCIA DE LUTAR CONTRA OS IMPERIALISTAS,
não tem realizado um trabalho sistemático para esclarecer as massas sobre a ligação indissolúvel entre as tarefas da revolução antifeudal e anti-imperialista, quase não soube penetrar nas empresas industriais e fazendas que se encontram nas mãos do capital estrangeiro e não tem proposto reivindicações parciais, articuladas especialmente com as tarefas gerais da luta para libertar o Brasil do domínio imperialista.
9 ‒ O PARTIDO AINDA NÃO SE CONSCIENTIZOU DA ENORMIDADE DO PERIGO DA GUERRA E NÃO TEM REALIZADO UM TRABALHO ANTIMILITARISTA SISTEMÁTICO NO ESPÍRITO DO MARXISMO-LENINISMO.
Apesar da enorme importância do Brasil como uma grande base de retaguarda ou mesmo como um dos participantes de uma futura guerra interimperialista ou de uma guerra contrarrevolucionária dirigida à URSS e apesar do evidente perigo de uma intervenção brasileira numa guerra nas cabeceiras do Amazonas, o Partido não tem realizado uma campanha sistemática contra o perigo da guerra. Mesmo durante as greves que o Partido mais ou menos ativamente liderou, ele quase nada fez para ligar as reivindicações dos grevistas com as palavras de ordem antimilitaristas. O Partido não tem criado “comitês de luta contra a guerra” nas empresas industriais nem nas zonas rurais. De maneira absolutamente insatisfatória se realizou a preparação para o Congresso Latino-Americano Contra a Guerra Imperialista ‒ arregimentação insuficiente das massas, convite a trotskistas etc. O partido não ostenta nenhuma conquista real no trabalho entre as Forças Armadas das classes dominantes, limitando-se a lançar, vez ou outra, panfletos e apelos isolados, geralmente com diretrizes políticas errôneas. Assim, por exemplo, durante a “guerra civil” do ano passado, alguns apelos partidários propunham a diretriz pacifista pequeno-burguesa da luta “contra todas as guerras”, defendiam a teoria do “mal menor” com relação aos tenentistas, apoiavam a “tese” absurda de que a “preparação de uma intervenção antissoviética” era o “fator principal” das guerras no Chaco e no Brasil etc.
Em algumas camadas do Partido circula uma teoria esquerdista segundo a qual “a guerra seria um fato positivo, pois conduziria à revolução”, ou seja, uma teoria completamente oportunista, que esconde a incapacidade e a má vontade em realizar um trabalho de massas sistemático que desencadeie as lutas de classe na cidade e no campo, levando a classe operária e o campesinato trabalhador à revolução.
10 ‒ O PARTIDO NÃO LANÇOU UMA PROPAGANDA SISTEMÁTICA DAS CONQUISTAS DA EDIFICAÇÃO SOCIALISTA NA U.R.S.S.
As tentativas de criar uma “Sociedade dos Amigos da URSS” até agora só levaram ao surgimento de organizações absolutamente desligadas das massas e convertidas num reduto de intelectuais pequeno-burgueses, parte dos quais intrigava contra o Partido sob o abrigo de um fraseado “de esquerda” e “pró-soviético”. O PCB não tem realizado uma campanha sistemática de esclarecimento sobre os êxitos, dificuldades e tarefas da edificação socialista na URSS, e em certas camadas do Partido existe até uma desconfiança nas iniciativas do PC(b) da URSS e do governo soviético, chegando a casos de calúnias trotskistas contra os bolcheviques e o camarada Stálin.
11 ‒ O PARTIDO TEM PRESTADO UMA ATENÇÃO INSUFICIENTE À FORMAÇÃO INTERNACIONALISTA DE SEUS MEMBROS.
Não têm sido esclarecidos os grandes acontecimentos de importância internacional e não tem sido feita nenhuma tentativa de estabelecer ligações entre esses acontecimentos com esta ou aquela tarefa do Partido e das amplas massas trabalhadoras.
12 ‒ ATUALMENTE A IMPRENSA PARTIDÁRIA AINDA NÃO CONSTITUI DE FORMA ALGUMA UM AUTÊNTICO “ORGANIZADOR COLETIVO” DAS MASSAS.
Mesmo A Classe Operária, órgão central do Partido, tem aparecido de forma absolutamente irregular e sua ligação com as massas é muito débil. Ele não tem lançado luzes sobre a vida cotidiana dos trabalhadores nem respondido a seus interesses presentes ou refletido suas necessidades vitais. Ao mesmo tempo, A Classe Operária não está em condições de elevar o nível de consciência política das massas nem de servir como um autêntico propagador das ideias comunistas entre as massas. É indispensável: а) garantir uma tiragem regular e uma ampla divulgação de A Classe Operária; b) garantir um afluxo constante de correspondência operária e camponesa, desenvolver uma rede de correspondentes operários e camponeses e organizar-lhes a direção; c) criar um quadro permanente de colaboradores políticos para o jornal, capazes de assegurar-lhe uma feição bolchevique; d) garantir a liderança permanente do jornal por parte dos órgãos dirigentes do Partido.
*
A fim de livrar o Partido dos elementos estranhos e convertê-lo numa autêntica organização bolchevique, é indispensável debater a presente carta e as instruções especiais listadas, que devem ser trabalhadas pelo CC do PCB em todos os círculos partidários, nos comitês, células e frações comunistas, bem como traçar um plano concreto para livrar o Partido dos elementos estranhos e para reestruturar radicalmente todo o trabalho partidário.
O surgimento de formas violentas de luta na Guatemala marcou uma virada no curso da Revolução. Essa mudança ficou evidente com a rebelião popular de março e abril de 1962, embora antes disso tenham ocorrido importantes surtos que marcam nossa história: a tentativa de golpe de Cobán e o levante de 13 de novembro de 1960. Em resposta à violência do inimigo, o povo levantou a gloriosa ação guerrilheira.
Embora tenha havido tentativas de definir uma liderança revolucionária, foi somente em março de 1965 que as FAR foram realmente reintegradas como uma organização político-militar "relativamente ampla", com a participação da liderança do Partido Trabalhista Guatemalteco (PGT), da frente guerrilheira "Edgar Ibarra" e da Juventude Trabalhista Patriótica, tentando garantir que a luta armada e política convergissem, fossem planejadas em conjunto e estivessem sob uma única liderança. A carta da frente guerrilheira "Edgar Ibarra" e, em particular, a renúncia do Comandante Turcios do Movimento Revolucionário "1.1 de Novembro" (MR-13), abriu caminho para uma solução à crise que o movimento revolucionário guatemalteco enfrentava naquele momento.
Foi assim que o Centro de Liderança Revolucionária foi criado. Entretanto, ao formar uma liderança com políticos de um lado e líderes militares do outro, foi estabelecida uma liderança dupla que só serviu para impedir o reconhecimento dos verdadeiros líderes da guerra. Com os líderes guerrilheiros nas montanhas, o Centro de Liderança Revolucionária foi tomado pela camarilha dominante do PGT, que, em vez de estabelecer uma liderança verdadeiramente unida, despojou o movimento armado de seus verdadeiros líderes, absorvendo os líderes guerrilheiros no PGT.
A conferência de março de 1965, que deveria resolver o binômio liderança política-liderança militar incorporando os chefes do PGT às tarefas de guerra, convertendo a disciplina do PGT em disciplina militar, adotando métodos executivos, centralizados e verticais, só serviu para aprofundar as divergências entre o Comitê Central do PGT e as unidades armadas, ao integrar um centro de liderança no qual predominava a posição dos que estabelecem diferenças entre liderança política e liderança militar e dos que afirmam que a liderança política deve estar acima da liderança militar. Em vez de incorporar liderança política às tarefas de liderança militar, a conferência despojou as unidades armadas de sua liderança exclusiva. Até o Comandante Turcios, que permaneceu nas montanhas de novembro de 1963 a fevereiro de 1965, teve que permanecer na cidade realizando tarefas puramente políticas.
Com a conferência, o Comitê Central do PGT realizou uma sessão plenária em meio a fortes divergências ideológicas, culminando a discussão sobre o problema do caminho da revolução guatemalteca. Entretanto, o Comitê Central não foi além de reafirmar a luta armada como parte da estratégia do Partido e insistiu apenas na "forma da guerra revolucionária popular..." Ele destacou duas características fundamentais da guerra, a saber: "sua natureza prolongada, que deve passar por três etapas em seu desenvolvimento, e seu caráter como uma guerra popular", insistindo como algo verdadeiramente novo que "sem o apoio das massas populares, o triunfo da luta armada é impossível".
Em maio de 1965, outra sessão plenária do Comitê Central do PGT foi realizada para aprovar as "dez teses sobre organização", que concebiam a FAR como "a organização encarregada de liderar diretamente a luta armada sob a responsabilidade do PGT e outros revolucionários que, embora não sejam membros do Partido, aceitam as teses fundamentais do marxismo-leninismo; uma organização não paralela, mas concêntrica, ao PGT".
As Dez Teses exigiam a criação de comitês regionais centrados no comitê leal ao Partido, a criação de comitês de zona e comitês locais, órgãos clandestinos, que deveriam ser estabelecidos em todas as aldeias, fazendas, bairros, fábricas, centros estudantis e todas as frentes de luta. Cada comitê governante, com seu representante político-militar, era responsável por executar e monitorar periodicamente o trabalho de base em suas respectivas jurisdições, mas o papel desses comitês não era totalmente compreendido.
O papel atribuído ao Centro de Direção era garantir "a combinação dialética de ações combativas com trabalho organizacional e político". Nesse sentido, o Centro de Comando tentou planejar todas as nossas operações a partir da cidade de acordo com as conveniências políticas de pressionar o governo para que o aparato militar e os comitês as colocassem em prática.
- O PGT forneceu as ideias e a FAR forneceu as mortes
Este fato deu origem a uma dupla tendência: de um lado, a atividade combativa e, de outro, a atividade de organização política. A dupla tendência exacerbou as contradições dentro do movimento, e a falta de comando centralizado levou à criação prematura de outros "focos de guerrilha" onde poderíamos discutir e resolver nossas diferenças a partir de posições de força. Tanto o comitê executivo da extinta Juventude Patriótica do Trabalho quanto a liderança do PGT começaram a organizar bases de apoio em diferentes regiões com vistas a formar unidades armadas, mas isso não correspondeu a nenhum crescimento real do movimento ou de sua capacidade ofensiva. Essa dispersão de esforços, motivada por divergências e pela causa e efeito da ausência de um comando único, efetivamente interrompeu o desenvolvimento da frente guerrilheira "Edgar Ibarra".
No final de 1965, surgiram os primeiros “elementos para o desenvolvimento das táticas para a primeira fase da guerra”. Esses elementos caracterizaram essa etapa como "uma estratégia defensiva porque o inimigo é mais forte que nós". Segundo isso, era necessário primeiro organizar o povo para a guerra, organizar zonas de guerrilha, organizar a resistência, organizar a luta clandestina e, apoiado nisso, utilizar todas as formas de luta; Isto significava que o fundamental neste período era a organização das massas em geral e dos comitês clandestinos do PAR e, ao mesmo tempo, fortalecer, renovar e desenvolver o Partido; Em outras palavras, elevar a consciência das massas, conquistá-las para nossas posições, incorporá-las à guerra em unidades combatentes, na rede de base, na organização político-militar, e não por meio do combate armado, mas "por meio de intensa propaganda, educação e trabalho organizacional"; e o mais importante: “Não caiamos em ações prematuras que alertem o inimigo e desencadeiem a repressão onde ainda não estamos organizados…”
Segundo a tática da primeira etapa, a organização "político-militar" deveria "cercar" os grupos de ação e autodefesa ou guerrilhas sem se tornar parte desses grupos, mas sim "atendê-los em todos os sentidos e principalmente politicamente para garantir seu correto desempenho não apenas nas táticas de luta, mas também no moral revolucionário". O papel dos comitês não era, portanto, dirigir as ações das unidades armadas onde elas já existiam, mas apenas "incutir nos combatentes o espírito de guerra revolucionária, a determinação de lutar e a dedicação à causa". Essa é a tática do PGT (sua camarilha dominante). Acontece que não foram os "propagandistas" e "organizadores" que não tiveram determinação para lutar, aqueles que nunca declararam guerra, mas sim aqueles que, por meio de palestras e cursos de curta duração, tiveram que incutir a determinação para lutar naqueles que lutavam com armas nas mãos.
Quando essas diretrizes pareciam indicar que a principal forma de organização e luta no desenvolvimento da revolução guatemalteca é a militar e paramilitar, essa impressão foi dissipada ao indicar que isso não significava que "outras formas de luta, incluindo as legais e pacíficas" não fossem usadas. Quando essas diretrizes indicaram o caminho correto da luta armada, elas imediatamente recuaram, dizendo: "Isso não significa que as formas pacíficas e legais tenham se esgotado em nosso país, não: ainda há possibilidades legais e pacíficas que devem ser aproveitadas ao máximo." Nessas condições, a camarilha dominante do PGT desviou suas energias para alcançar coordenação e entendimentos parciais com outras forças. Foi estabelecida coordenação com a União Democrática Revolucionária (URD) e a Democracia Cristã (DC). Foram realizadas negociações com o Partido Revolucionário (TTR) durante e após as eleições de março de 1966, durante as quais foi feita a proposta de atuar como intermediários na importação de café para países socialistas, resolvendo assim o problema econômico da burguesia e criando uma nova fonte de renda para sustentá-la no poder, contra o qual estamos lutando.
Os elementos táticos para a primeira etapa apontavam precisamente que "toda nação à qual se impõe a guerra no desenvolvimento da luta revolucionária pela conquista do poder deve estar ciente de que precisa formar um exército, baseado em destacamentos guerrilheiros, para enfrentar, com o apoio das massas, um exército profissional muito maior, com técnicas de guerra modernas e avançadas". Mas ao insistir resolutamente em "outras formas de luta", na implementação de "uma ampla luta econômica, política e ideológica ao lado dos militares" e no trabalho de organização de uma frente única, o conteúdo político da luta armada foi distorcido e a interrupção do desenvolvimento da frente guerrilheira "Edgar Ibarra" foi justificada. Foi precisamente isso que nos levou a cometer erros quando tentámos “tirar partido” da situação criada pelas eleições presidenciais de Março de 1966.”
Depois de quatro anos de luta, fazemos um balanço: 300 revolucionários mortos em combate, 3.000 homens do povo assassinados pelo regime de Julio César Méndez Montenegro. O PGT (sua camarilha dominante) forneceu as ideias e a FAR forneceu os mortos.
Apesar da situação imposta pelas FAR ao regime de Peralta Azurdia, e tendo denunciado e combatido a farsa eleitoral reafirmando "a necessidade de manter o rumo da luta armada revolucionária como base principal para afastar as forças contrarrevolucionárias do poder e levar a cabo a revolução"..., o Comitê Central, "levando em conta a necessidade de aguçar as contradições dentro das classes dominantes e reduzir a base política e social da ditadura militar, convocou o voto na candidatura de Méndez Montenegro", que conseguiu triunfar com maioria relativa.
Pressionado pela ameaça de um golpe militar com a intenção de impedir que o presidente eleito tomasse posse, Méndez Montenegro prometeu perante a embaixada dos EUA "continuar a luta mais enérgica e inabalável contra os comunistas e as guerrilhas, não fazer nenhuma mudança no exército, nem revogar a Constituição da República recentemente aprovada durante a ditadura".
- Uma luta entre o novo e o velho
Enquanto o inimigo resolvia suas contradições e se preparava para usar Méndez Montenegro para lançar a ofensiva mais astuta que já enfrentamos, a liderança do PAR permanecia atolada em desentendimentos internos motivados pela incapacidade e hesitação da camarilha governante do PGT. Ainda em 30 de maio de 1966, o Comandante Turcios advertiu que "o PGT, por responsabilidade de seu Comitê Central, não cumpriu seu papel de vanguarda, e foi isso que motivou a crise posterior que levou à mudança de uma parte do Comitê Central, crise que ainda persiste e continuará se agravando". Segundo o Comandante Turcios, essa crise consistiu em "uma luta entre o novo e o velho, entre o pensamento conservador e oportunista e o pensamento consequente e revolucionário, uma luta entre uma linha marxista-leninista criativa e em desenvolvimento e outra linha esquemática, estática, dependente e com uma grande dose de revisionismo".
Com o triunfo do Partido Revolucionário (PR), as forças armadas rebeldes baixaram a guarda, posicionaram-se em alerta e começaram a discutir questões de comando. Os líderes do PGT estavam muito ocupados “tirando vantagem da lei”.
Quando o comandante Turcios morreu em outubro de 1960, a liderança das FAR começou a discutir se a guerrilha era a vanguarda do movimento ou não e se deveria haver um comandante ou não (a maioria da liderança das FAR eram membros da liderança do PGT). Em vez de unificar todas as nossas forças em torno da frente guerrilheira “Edgar Ibarra” e reconhecer a autoridade do camarada Cesar Montes como o sucessor legítimo do comandante Turcios, para combater o inimigo, nossas forças foram mantidas dispersas e as FAR ficaram praticamente sem um comandante.
O inimigo não precisava discutir e, no mesmo dia da morte do Comandante Turcios, eles enviaram 10.000 soldados para a Sierra de las Minas e as Montanhas Mico, sob orientação local de soldados americanos. O fim das hostilidades deu às facções civis e militares inimigas tempo suficiente para chegar a um entendimento sobre novos métodos de combate à guerrilha, reorganizar a burocracia militar e planejar a nova ofensiva.
A ausência de um comando único impediu a formulação de uma estratégia precisa para a luta armada, e a ausência de tal estratégia impediu o planejamento adequado das táticas. A falta de um comando único manteve os guerrilheiros isolados, e a resistência urbana agiu por conta própria, sem direção estratégica ou tática. As FAR estavam sob o controle de um partido cuja liderança de direita, na prática, nunca havia estado em guerra.
A frente guerrilheira “Edgar Ibarra” é onde se resume a principal e mais rica experiência de luta armada do nosso país, é ali onde chegamos ao ápice do nosso desenvolvimento militar e político; E é aqui, com seus contratempos, que esse período termina; Por todas essas razões, é o ponto de partida para a renovação e o novo impulso da luta armada.
A camarilha dominante do PGT reflete constantemente suas tendências conservadoras e de direita e seu claro comprometimento com as forças da contrarrevolução.
- As FAR surgem como uma necessidade do povo
A característica fundamental da direção do PGT é que ela é uma extensão do movimento revolucionário democrático-burguês, sua parte mais radical; Sua formação é desse tipo e ele nunca conseguiu se libertar completamente de sua formação política burguesa. Se as FAR surgiram como resultado da necessidade do povo de enfrentar os opressores e o imperialismo, se as FAR surgiram no calor do violento confronto do povo com a violência reacionária, o PGT surgiu com o desenvolvimento democrático do país, dentro da lei.
O povo guatemalteco, os trabalhadores, os camponeses e outras camadas revolucionárias, necessitam de uma organização de classe, de uma vanguarda independente e organizada que responda intransigentemente aos seus interesses vitais, aos de todo o povo, à soberania e à dignidade nacionais; uma organização nascida do coração do povo, dos indignados e humilhados, que reúne e lidera os interesses dos guatemaltecos; que, pisando em solo nacional, promova leis e medidas de mudança social, que não só “interprete a realidade nacional”, mas sobretudo mude revolucionariamente a situação, sonho secular de Marx e exemplo de Lenin, Mao, Ho Chi Minh e Fidel Castro.
A influência da burguesia dentro do PGT foi enorme e se reflete tanto na concepção da revolução quanto em seus métodos; todos os erros dessa liderança foram erros de direita; admitido superficialmente em todas as resoluções da Comissão Política. A camarilha dirigente do PGT organizou um partido legal, um movimento sindical, e formou seus quadros sob a ilusão do desenvolvimento evolutivo da revolução, no marco de uma Constituição burguesa com um exército dominado e dirigido pela burguesia, e dentro dos conceitos dogmáticos e rígidos de uma falsa solidariedade ideológica.
A camarilha dirigente do PGT, apesar de nosso país ser agrário e de os camponeses lutarem pela terra, não deu a devida atenção a essas lutas. O trabalho realizado não foi diferente daquele realizado pelos partidos burgueses, cujo único interesse é ter uma forte base eleitoral. O trabalho no setor camponês indígena era nulo, baseado na falsa tese de que “eles são reservas da reação”. Seus líderes nacionais se limitaram ao trabalho burocrático, à política, nas cidades, trabalhando com artesãos e sindicatos. A camarilha dirigente do PGT, dentro do quadro legal, não criou condições revolucionárias; em vez disso, aderiu às leis burguesas e às medidas legais e políticas dentro da estrutura da constitucionalidade burguesa. A camarilha dominante não conseguiu criar as condições legais para lutar na clandestinidade; foi incapaz de combinar luta clandestina e legal, muito menos de criar instrumentos e dispositivos militares para esmagar a reação e o imperialismo. Somente no papel, em folhetos e na terminologia se falava de uma aliança operário-camponesa e da hegemonia do proletariado na revolução. Na realidade, eles são uma força política viciada nos ditames da burguesia e seus líderes; sua limitação básica e essencial é sua tendência ao compromisso.
A falência de 1954 sepultou definitivamente as formas tradicionais de luta, mas os dirigentes do PGT só sofreram suas consequências no abrigo do exílio, e todo aquele comportamento errôneo e equivocado logo ressurgiu sob o disfarce da clandestinidade, cujo peso ainda perdura. Acostumados aos confortos da legalidade, desde sua falência eles meramente viveram sua "resistência" na segurança da clandestinidade, vivendo em uma retaguarda segura e acomodatícia. Eles falharam em liderar lutas populares, permaneceram isolados das massas e permaneceram nada mais do que sempre foram: um movimento de propaganda. O PGT foi reconstruído, mas ainda carece de uma política independente e de classe; O máximo que seus líderes conseguiram em sua chamada política de massas foi traçar linhas eleitorais, que permaneceram apenas como preâmbulo da agitação na capital, criando órgãos eleitorais fracos e efêmeros, que eles pomposamente chamaram de "trabalho de frente única" e da mesma forma formularam e dificultaram o trabalho revolucionário da luta armada.
O PGT, e especialmente sua liderança, deixou de ser um instrumento revolucionário. Os trabalhadores e camponeses precisam de uma organização cuja liderança não seja um órgão deliberativo, mas sim um órgão supremo de ação, capaz de forjar a aliança operário-camponesa por meio da guerrilha, que é o que constituem as FAR e seu comando único.
A força organizadora e mobilizadora na luta contra as forças opressoras do inimigo, o exército e as forças policiais, é a guerrilha. O movimento guerrilheiro, que tira sua força do campesinato, une intelectuais, trabalhadores e outros estratos, formando uma unidade nacional sob a liderança ideológica da classe trabalhadora. Os acontecimentos, o desenvolvimento da luta e a maturidade da FAR há muito ultrapassaram a camarilha dirigente do PGT, e nossa organização não depende mais dessa liderança cujas limitações e obsolescência se refletiram na história da luta revolucionária em nosso país.
Diante da impossibilidade de resolver o problema político da liderança por qualquer outro meio, a guerrilha, em caráter executivo, fornece uma solução militar e se torna a liderança político-militar da revolução.
"Neste momento, somente a fortaleza revolucionária de um núcleo determinado e consciente, que assume sem hesitação a tarefa de realmente liderar a guerra, sem depender mais da velha liderança, dos velhos conceitos e dos velhos métodos, pode levar adiante o movimento revolucionário guatemalteco, levando o povo à vitória definitiva e total."
"A guerra não pode ser liderada por aqueles que fazem concessões, nem por aqueles que fazem um mito do termo luta político-militar, porque isso convém aos seus interesses; por aqueles que fingiram participar plenamente dessa luta até a morte, mas protegeram seus próprios recursos e aparatos; por aqueles que brincaram com a morte de nossos combatentes, porque esperaram e estão esperando o momento de recuar."
As resoluções do Comitê Central afirmam que "nosso principal fracasso foi a fraqueza política e de propaganda com a qual respondemos ao inimigo". Nossos erros se devem às visões conservadoras dos líderes do PGT, que priorizam a organização, a propaganda e o fortalecimento do PGT em detrimento do desenvolvimento e fortalecimento de nossas unidades armadas. Ela subordina a concepção de um plano estratégico de desenvolvimento da luta armada às necessidades e ao fortalecimento do PGT e à derrota do que eles chamam de "abordagens liquidacionistas".
Os líderes do PGT não podem oferecer ao povo uma compreensão correta do desenvolvimento estratégico da luta armada, porque qualquer proposta que eles façam sempre será baseada na manutenção de suas posições de força por meio de "suas organizações regionais". Para eles, a primeira prioridade é fortalecer o PGT por meio do fortalecimento de "seus escritórios regionais". Eles estão determinados a investir seus esforços ali porque, para eles, esses escritórios regionais são sua força política e até "militar", o que lhes permite manter sua hegemonia na liderança do movimento revolucionário.
A camarilha dirigente do PGT não consegue superar suas deficiências porque seus conceitos se limitam à necessidade de "neutralizar o perigo de divisão em nossas organizações". Para os dirigentes do PGT, a luta armada é uma necessidade tática, um instrumento de agitação, uma moeda de troca para garantir a sobrevivência do Partido e deles, dirigentes, pessoalmente, enquanto ocorre "uma nova mudança de forças no campo contrarrevolucionário". Isso não nos preocuparia tanto se não fosse pelo fato de que eles mantêm suas posições de poder à custa das vidas de inúmeros militantes, combatentes e pessoas comuns. Manter essas posições não é apenas uma intransigência aventureira, mas uma intransigência criminosa.
A agitação da camarilha dirigente do PGT sobre o perigo do esquerdismo, do radicalismo de esquerda, da tendência a pular etapas, do perigo de formas militares insulares que subestimam outras formas de "luta" e minimizam o papel da "vanguarda da classe trabalhadora" e de seu partido de vanguarda, apenas revela o que eles são: uma seita estreita de defensores de um "marxismo-leninismo" alheio à luta diária dos problemas vitais do povo. Em sua resolução de julho de 1967, eles afirmam que as divergências internas foram reacendidas após os golpes recebidos porque "a conferência nacional do PGT de 1966, embora tenha sido um passo importante, não resolveu seriamente questões importantes da luta ideológica".
Naturalmente, não consegui resolvê-los porque essas questões são de natureza teórica e se refletem claramente em sua natureza prática.
- A posição de vanguarda é conquistada pela luta.
O PGT serviu apenas para encobrir a falta de liderança militar e política. Do ponto de vista orgânico, o PGT deveria ser a vanguarda, mas do ponto de vista funcional, era a frente guerrilheira “Edgar Ibarra” e a frente guerrilheira “Alejandro de León”. A vanguarda do movimento revolucionário guatemalteco, onde a guerra começou, tem sido a vanguarda do movimento guerrilheiro. Na história da luta armada do nosso país, a camarilha dirigente do PGT não aparece na vanguarda, nem na linha de frente da luta.
Divergências com aqueles que permanecem na mera retórica política, sem provar a correção de suas visões na prática, são divergências cuja solução seria extraoficial ou inútil tentar, como disse o Comandante Turcios, "a posição de vanguarda é conquistada na luta diária, a liderança é conquistada através de sua execução bem-sucedida. Se não, se um Partido Comunista não sabe cumprir seu papel, ele é neutralizado, destruído, e outra organização, outros revolucionários com maior clareza assumirão seu papel, chegarão ao marxismo-leninismo, liderarão a revolução e formarão um verdadeiro Partido Comunista."
Na nossa guerra não há espaço para oposição política ou militar. Os líderes políticos da luta armada e da revolução serão "aqueles que participarem dela e se mostrarem capazes de liderá-la no terreno".
- Vamos lutar com todos
Aqui, não se pode conceber um quadro político que não seja ao mesmo tempo um quadro militar. Os verdadeiros líderes do povo já emergiram da luta de guerrilha. Não é no futuro que não haverá mais líderes políticos que não saibam como conduzir ações militares na guerra, nem é no futuro que os líderes militares não precisarão mais de comissários políticos. Hoje, nossos líderes guerrilheiros já são os líderes políticos da luta revolucionária em nosso país. Chegou a hora de mudar o slogan: "todos devem estar preparados e prontos para lutar a qualquer momento" para este: TODOS LUTAM AGORA.
Por outro lado, a manobra da camarilha dirigente do PGT de continuar absorvendo os combatentes mais destacados para seu Comitê Central, apenas para garantir a ascendência política de um Partido que historicamente falhou em desempenhar o papel de vanguarda do movimento revolucionário guatemalteco, foi praticamente derrotada. Nessas condições, propõe-se a criação de um comando único e a concentração de todas as forças armadas rebeldes para formar o Exército Popular.
Dessa forma, continuaremos a ofensiva, desgastando as forças militares inimigas, quebrando sua autoridade e nos preparando para repelir os planos imperialistas de agressão. As forças agressivas do exército americano tentarão nos derrotar, mas todas as suas tropas, todas as suas bombas, seus aviões e helicópteros, todo o seu dinheiro e suas técnicas criminosas servirão apenas para prolongar uma guerra da qual, no final, inevitavelmente sairemos vitoriosos.
SEGUINDO O EXEMPLO COMBATENTE DOS COMANDANTES GUEVARA E TURCIOS LIMA!